Escrevo...
No conjugar de teclas frias de um computador, na junção de letras que formam várias palavras...
... Escrevo...
Na interna confusão de conceitos, frazes ocultas, pensamentos ondulantes... No contínuo turbilhão cerebral, dinâmica filosofal, ideologia de um realismo inexistente...
... Escrevo...
Porque encontro na escrita a realização de um cosmos de conceitos, ideias, realidades, fantasias... Encontro em cada palavra, não apenas um conjunto de letras, vogais e consoantes que harmoniosamente se fundem em sentimentos, emoções, sensações e descrições...
Escrevo... e na escrita encontro-me... Posso por vezes não gostar de mim mesmo... de até me chatear, de me discordar, de me rispostar... Encontro em mim mesmo a minha própria oposição... que a escrevo, relatando a minha opinião, sendo por vezes também contrária a mim mesmo...
Escrevo... entrando no mundo de fantasias que eu próprio posso ajudar a criar pela escrita que por mim disponho, vizualisando um mundo que eu próprio conheço e tenho vontade de o conhecer...
Escrevo... conhecendo-me como eu mesmo, na minha própria escrita...
Escrevo... e sou Eu, apenas Eu... mesmo que por vezes não goste deste Eu que aqui escreve... Mesmo que seja um Eu que não me permite entender a sua ideologia, o seu pensamento, a sua alteração conceptual, a sua vizão da realidade e do mundo concreto e abstracto em que se encontra... Não o classifico com um eu heterónimico, mas um Eu mais Eu... um Eu que se questiona a si próprio, um Eu que não fica apenas pelo que vê de si próprio e que com esse descontentamento permite questionar todo um conhecimento que não conhece... Mas que o escreve...
Escrevo... Deixando para o mundo a minha vizão de uma realidade com dois parâmetros, duas vizões, dois mundos... Mas apenas uma só escrita, um só conjunto de conceitos... Uma só realidade... Uma só palavra... sempre um conjunto de letras... Que Escrevo...
